quarta-feira, 29 de abril de 2020

Gritos em navalha

Respeito a gente pede pra quem nos trata desrespeitosamente. Gritar faz perder a razão. Palavras não voltam e é por isso que hoje eu prefiro me calar.
Não foram três anos de terapia à toa. Não foram horas a fio falando sobre mim mesma, situações e como eu lidei com elas e como eu deveria ter lidado, em vão. Graças ao apoio que tenho há três anos, aquele que eu necessitava já no começo da adolescência, eu sei quem eu sou e quem eu não sou, assim como quem eu quero ser; eu sei o que eu mereço e o que não; eu sei o que é pra mim e o que não é. Hoje eu sei quais pedras levar comigo e quais eu deixo no mesmo local de quem as atirou em mim.
Brincadeira não se faz com xingamentos. Palavras pesadas trazem sentimentos e energias ruins, e eu posso escolher não gostar delas.
Momentos ruins não definem quem eu sou. Da mesma maneira, quem eu era há 10 anos não é mais compatível com quem eu sou hoje.
Reclamar de vez em quando é normal, afinal a vida de ninguém está fácil. Reclamar todos os dias e jogar a culpa de tudo em todos não é normal, nem justo, nem saudável.
Dessa vez, palavras não me colocarão em uma posição de inferioridade. Há anos, elas me machucavam profundamente. Me faziam acreditar que eu era "ruim, fria" e com "coração de gelo". Que eu era incapaz de agradar alguém, péssima. Tão injusta, grossa, estúpida. Nunca um elogio. As palavras me julgavam, queriam que eu fosse igual à autora. Como eu poderia querer ser como alguém doente?
Eu entendo que não preciso fazer tudo sozinha, logo peço ajuda e a aceito.
Eu entendo que existem tarefas chatas, mas as realizo pois entendo que são necessárias e pra torná-las mais fáceis, arrumo maneiras que as tornem mais interessantes ou até mesmo divertidas. Soluções para os problemas.
Não reclamo das minhas próprias escolhas - isso de chama coerência. Se estou incomodada, eu falo. Ninguém é obrigado a adivinhar o que está na minha mente.
Não 'passo pano' pra atitudes folgadas. Não peço pra Deus milagres que poderiam ser conseguidos por mim mesma com um pouco de coragem e atitude.
Fazer acontecer precisa de muito mais do que vontade.
Injustiça é você fazer tudo por alguém que só sabe te esculachar. Ignorância é você aceitar o esculacho e revidar. Empatia é você entender e relevar, porque doeria demais (em si e no outro) devolver o que te deram.
Mesmo após três anos de terapia, às vezes dói demais ser empático. Mas como tratar diferente alguém doente?
Eu poderia dizer tudo isso diretamente, mas é mais poético escrever um texto que ninguém vai ler. E os ouvidos que deveriam escutar não estão prontos para ouvir.