segunda-feira, 30 de setembro de 2013

Ânsia de parar o tempo

Eu reclamava da adolescência, mas arrependo-me muito. Isso porque o meu maior medo, hoje, é crescer. As responsabilidades batem à porta, o mundo cobra, e roda, roda, gira, passa noite, dia e tudo me afronta. Nada muda, mas tudo muda. Paradoxos e prantos são cada vezes mais constantes. Choro como chora uma criança com fome. Mas a minha fome não é de alimento (ainda), é de necessidade de conseguir administrar uma possível fase adulta já catastroficamente começada.
Impossível! Me vejo numa fronteira e devo escolher um dos lados, mas metade de meu corpo pertence a um e metade, a outro. Canso de tanto tentar fugir em vão. O tempo não para, mesmo que você pare. Ninguém escapa do crescimento.
Algumas pessoas crescem mais rápido, por obrigação: necessidade de ganhar dinheiro para se manter no mundo capitalista, necessidade de sobrevivência, e muitas mais dessas mesmas "necessidades". Outras crescem lentamente, protegidos, estrategicamente escondidos do mundo por seus pais. Embora uma hora ou outra, o mundo os ache...
Não é uma situação agradável essa de crescer. Tem quem goste, mas não eu. Ah, eu que sempre reclamei, sempre quis ir embora, sempre quis ser independente. Eu que sempre reclamei de meus pais, da minha falta de amizades, da minha falta de preenchimento no peito. Eu que sempre quis crescer, hoje não quero mais. Ah, como a vida é irônica!
Lembro do que vivi e peço aos céus e à terra que eu possa viver de novo, mas não posso. Não posso mais voltar atrás, viver de novo as coisas boas e evitar as ruins, não posso concertar os meus erros, imagine os dos outros! Erros são para sempre.
Aliás, muitas coisas são para sempre: as recordações, os erros, as lições, os nomes, as histórias. O que não dura para sempre são os sorrisos e os sofrimentos. Cada época da vida produz novos, e eles se tornam recordações, e essas duram para sempre. Fico sentida por isso, seria bom se os sorrisos durassem para sempre.
A vida passa a ser um jogo péssimo para ser jogado quando não se tem dinheiro, nem emprego, nem inteligência, nem talento, mas se tem bastantes problemas. A vida é um jogo sem adrenalina, pacato, conhecido do começo ao fim, não importando necessariamente o meio; pelo menos não se você for alguém como eu, normal, pobre e encrencada. A gente nasce sem querer e morre sem querer, e a existência começa a parecer realmente um "sopro de vida".
Caro leitor, sinto dizer que não escrevo, não choro, não sinto mais nada. Só vivo, pacatamente, nostalgicamente, com um sorriso amarelo e duas xícaras de café diárias que não resultam muito contra minha sonolência matutina. Secaram-me as palavras, as lágrimas e os porquês. Simplesmente me resta sofrer agora e curtir cinco minutos de alegrias, e voltar a sofrer. Como qualquer pessoa, qualquer cidadão.
Caro mundo, gostaria de renunciar o cargo de cidadã mundial e, com isso, também me desfazer das obrigações de consumir, de me endividar, de adoecer, de votar, de me importar, de me maltratar, de passar na faculdade, de arranjar um bom emprego, de casar, de ter filhos e de seguir fazendo o que todos na sociedade fazem sem saber a importância (ou falta dela) de todas essas coisas. Quero renunciar à fase adulta e pegar de volta a infância.

"Saudade é quando você sente um aperto no peito e lembra de uma época boa. Sofrimento é quando você sente um aperto no peito e olha ao seu redor. Desespero é querer voltar pra época da qual se sente saudade e querer fugir da época em que ao seu redor só há cifrões, pessoas de duas cabeças e facas, muitas delas."

Tercetos

Noite ainda, quando ela me pedia
Entre dois beijos que me fosse embora,
Eu, com os olhos em lágrimas, dizia:

"Espera ao menos que desponte a aurora!
Tua alcova é cheirosa como um ninho...
E olha que escuridão há lá fora!

Como queres que eu vá, triste e sozinho,
Casando a treva e o frio de meu peito
Ao frio e à treva que há pelo caminho?!

Ouves? é o vento! é um temporal desfeito!
Não me arrojes à chuva e à tempestade!
Não me exiles do vale de teu leito!

Morrerei de aflição e de saudade...
Espera! até que o dia resplandeça,
Aquece-me com tua mocidade!

Sobre o teu colo deixa-me a cabeça
Repousar, como há pouco repousava...
Espera um pouco! deixa que amanheça!"

- E ela abria-me os braços. E eu ficava.

Olavo Bilac