Estou escrevendo novamente com a mesma trilha sonora de outrora. Dessa vez, apesar de ter pensado desde ontem em todas as possibilidades, eu não sei como começar.
Talvez deva começar sendo humilde e pedindo desculpa. Sinto muito pelos meus erros. Tenho muito a aprender sobre o que é amar alguém e sobre o que é amar a mim mesma. Às vezes esses dois aprendizados se misturam e eu ultrapasso a linha tênue que há entre se amar e ser egoísta. Acredito que você também já ultrapassou essa linha algumas vezes. Até aqui conseguimos recuperá-la, mas acredito que você não quer mais fazer isso, ou talvez não consiga, e eu não quero lhe julgar.
Nas poucas vezes que imaginei essa situação acontecendo, imaginei que doeria menos do que da primeira vez pela qual fui obrigada a trilhar esse caminho. Eu errei, dói da mesma forma. Nota para mim mesma: o amor sempre machuca quando vai embora, não importa quão avassaladora ou dependente foi a relação (aprendizado número 1).
Meu coração ficou o final de semana inteiro esmagado dentro do meu peito. Faltava uma parte dele, que é você, e talvez ele tenha que se regenerar sozinho, de novo. Além disso, não dormi, não comi, tremi, chorei e tive dor de barriga. É o efeito desse tipo de abstinência em mim.
Mais uma vez, apesar dos meus esforços, fui ciumenta e impulsiva. Mais uma vez, isso destruiu a nós dois. Mais uma vez eu tentei desesperadamente reconstruir o que eu mesma estava destruindo, mas foi como andar sob areia movediça: quanto mais eu me mexi, mais eu nos afundei. E como num sopro, deixei tudo escapar por entre os meus dedos. Nota para mim mesma número dois: enquanto não se sentir tão boa quanto qualquer outra pessoa, não comece outro relacionamento (nem que isso dure para sempre).
Me perdoe por todas as vezes que eu disse sim quando queria dizer não. Meu maior defeito hoje, aos meus olhos, é sempre querer agradar aos outros, mesmo que isso me desagrade, e está extremamente errado. Sentimentos abafados se acumulam dentro de nós e explodem de uma única vez, e as consequências sempre são, no mínimo, desagradáveis. Nota para mim mesma número três: não faça isso de novo.
Agora, eu quero falar um pouquinho sobre o que eu não errei. Sempre acreditei que ninguém perde por dar amor, perde quem não sabe receber; sendo assim, eu não me arrependo de ter demonstrado meus sentimentos todas as vezes que senti necessidade. Amar alguém e demonstrar que ama não é errado, e eu não consigo participar dos joguinhos que as pessoas insistem em me aconselhar a participar. Eu não sei fingir que não me importo, quando me importo na verdade. Não me sinto bem em tratá-lo mal pra que, numa hipótese doentia, você corra até mim. Não sei fingir que tudo bem perdê-lo, quando não é o que meu coração quer.
O que eu queria na verdade era saber me expressar melhor, mas eu esqueço o que ia dizer quando olho nos seus olhos e quando vejo seus lábios sorrirem pra mim. Talvez tivesse sido mais prudente fazer um check-list do que eu queria dizer.
Só pra deixar registrado: eu gostaria que você tivesse omitido menos coisas e situações. Sei que minhas reações não são calmaria, mas eu tenho tanto medo de ser enganada, que as omissões me engoliram e transformaram toda a minha confiança em você numa bola de neve de medos. Não tiro de mim a responsabilidade de ter que lidar melhor com toda a minha insegurança e meu medo de ser traída, mas, mais uma vez, criei a expectativa de que seria melhor compreendida por tudo que já passei. Nota para mim mesma número quatro: ninguém nunca vai sentir o que você sente, porque só você passou pelas experiências que teve (não espere empatia de ninguém, muito menos de um namorado).
Eu gostaria também que você entendesse melhor a minha necessidade de planejamento. Mais uma vez, é minha responsabilidade lidar com isso e também não devo criar expectativas de empatia da sua parte. Mas eu criei, e expectativas sempre acabam mal.
Ainda nas expectativas estavam você demonstrar seus sentimentos por mim. As formas que eu imaginei você fazendo isso eram: 1) você demonstrar de alguma forma que não queria que fosse o nosso fim; 2) você demonstrar respeito pelos meus sentimentos e não ficar enrolando pra dizer o que já estava óbvio que você iria dizer; 3) você ficar tão mal quanto eu. Nenhuma das formas aconteceu. Nota para mim mesma número cinco: você não tem o direito de deixar alguém apreensivo por vários dias esperando por você ou por alguma resposta sua (não faça isso, lembre-se da dor).
Apesar de tudo, acredito realmente que até aqui ultrapassamos bem os obstáculos de um relacionamento sério aos vinte e poucos anos. Por mais que eu derrame todas as lágrimas do mundo durante os próximos dias (ou semanas), eu dei o melhor de mim aos 22 anos. Eu tentei errar o menos possível, mesmo errando. Tentei amar o máximo possível, mesmo às vezes não conseguindo. Eu tentei ser tudo pra você, mesmo não sendo.
Está doendo e doerá muito mais no futuro próximo, talvez mais em mim do que em você. Mas dessa vez eu sei que vai passar. E de todo o meu coração, espero que aprendamos, mesmo que separados, o que é amar, respeitar, se importar, se doar e compreender alguém. Afinal, eu ainda estou aprendendo a amar.