quarta-feira, 10 de abril de 2019

Borboletas

Em abril, borboletas rodopiam no estômago. Flores vêm e vão, mas as borboletas ficam. A cada ano, borboletas novas nascem dentro de si. As preferidas dela são as azuis, mas nem sempre são elas que estão presentes. Às vezes são verdes, como esmeraldas. Às vezes, no entanto, são acastanhadas.
De vez em quando aparecem todas de uma vez só. Com a mesma velocidade que vêm, elas se vão, deixando um vazio infinito. O vazio é escuro e frio e ninguém sabe direito o que fazer com ele. Tentam a todo custo preenchê-lo, em vão. O vazio não tem formato e nunca é preenchido completamente. Exceto pelas borboletas que chegam de novo, inesperadamente.
O que nos falam enquanto crescemos é que ter borboletas no estômago é um bom sinal, mas nem sempre é. Às vezes significa “dê três passos pra trás bem devagar e vá embora”, embora possamos entender erroneamente “corra até lá e mergulhe de cabeça”. É raso demais, menina.
Dói essa metamorfose entre lagartas e borboletas. O casulo é aconchegante e o silêncio é acolhedor.
Dizem que é mais seguro ter os pés no chão, mas você nunca vê uma borboleta ser pisoteada sem querer. Elas voam pra longe antes disso acontecer, exceto quando estão machucadas e suas asas não funcionam como deveriam.
Ela queria ser uma borboleta: viver pouco, mas livre, bela; fazer das flores sua casa e do do jardim seu universo. Ela queria ser ao invés de ter.
Por fim, as culpadas não são as borboletas. Culpado é quem as traz. Que bom que ela aprendeu a apreciar a presença e o vazio.