sábado, 31 de dezembro de 2011

Sorriso verdadeiro

Último dia do ano. Durante o ano eu imaginei que essa hora eu estaria morta ou chorando ou coisas desse tipo. Eu imaginei que eu estaria em qualquer lugar fazendo qualquer coisa, menos aqui e o que estou fazendo. Eu estou sorrindo. Finalmente um sorriso de verdade de alguém que era de mentira. Eu estou voltando para mim mesma, para o que eu era antes de querer ser outras pessoas. Eu sou apenas eu e eu devia me contentar com isso.
Parece meio egoísta ter tantos "eu" neste texto, mas eu estou realmente feliz e não tem um motivo certo. É só por estar viva, por saber que eu vou poder correr atrás do que acredito e eu realmente acredito agora. Eu sei o meu lugar, sei aonde eu pertenço, sei quem eu sou. Sei o que quero fazer.
Nem lembrava mais como era essa sensação de liberdade, felicidade, sossego e sorrir! Eu estou mesmo sorrindo? Tive tantas decepções e medos esse ano que pensei que minha luz tinha ido embora pra sempre, pensei que não seria mais feliz, aí eu descobri que eu não dependo de ninguém para isso. Para sorrir.
Estou sorridente, alegre, contente e nada está me abalando e eu pretendo que em 2012 continue assim. Eu vou correr atrás do que eu acredito e eu vou alcançar os meus objetivos porque nenhuma montanha é tão alta que não possa ser escalada.


Sempre haverá outra montanha e eu sempre vou querer move-la. Sempre será uma batalha difícil e às vezes eu terei que perder. Não é sobre o quão rápido eu chego lá, não é sobre quem está esperando do outro lado; é a escalada.


@sahbellatrix

domingo, 25 de dezembro de 2011

Narração atípica

      Um silêncio constrangedor, ameaçador ou apenas um silêncio vazio,  pairou entre os dois. Aparentemente ninguém iria quebrá-lo, então ela o fez.
      — Quando eu era pequena, eu sonhava em ter uma casa com inúmeros quartos. Não, não para o que você está pensando, eu não pensava em pôr muitas pessoas embaixo do mesmo teto que eu, sabe que eu não aguentaria e acabaria em um hospício! — Ela riu suavemente pela sua piada não tão engraçada. Ela estava em devaneio, seu cérebro e seu coração definitivamente destrancado e aberto, respectivamente. E ele, bom, ele a ouvia calmamente com o mesmo olhar disfarçadamente amoroso e face séria de sempre. Ele também não estava exatamente ali.
       "Eu queria muitos quartos pois queria decorá-los um mais diferente do outro, assim poderia libertar minha imaginação. Todas as noites eu imaginava como seria um e o decorava na minha cabeça. Certa vez imaginei um totalmente vermelho, desde o vermelho sangue até o vinho, todos os tons. E imaginei também um azul, também com todos os tons, desde o turquesa até o anil. Como fogo e gelo, sabe? Como... " — Ela desprendeu sua visão do nada em que estava e o olhou, talvez estivesse procurando a palavra certa ou talvez só esperasse que ele terminasse a frase. Não aconteceu nenhum dois dois, ela inclinou a cabeça para a esquerda e sorriu docemente, como sempre fazia.
       Voltou a olhar para o chão, ou para o nada, não é muito fácil adivinhar. Ela continuou falando: — Criei quartos imaginários rosa bebês para quando eu me sentisse infantil e pura, inocente. Criei quartos pretos e cinzas para quando eu me sentisse deprimida. Fiz quartos coloridos como o arco-íris para quando me sentisse alegre. Fiz quartos bem simples também, como aqueles em cabanas à beira do mar. Alguns eram ricos e outros eram humildes. Alguns eram minimalistas, básicos, com cores neutras. E outros eu imaginava com cores vibrantes.
       "Imaginei um quarto para minha primeira noite após meu casamento. — Ela abaixou a cabeça, o rubor translúcido em suas maçãs do rosto. — Imaginei os dos meus filhos e os pra cada fantasia que eu tivesse."
       — E o que isso quer dizer? - As palavras não saíram com o significado e tom que ele esperava. Saíram ríspidas demais. Ela não se abalou, continuou com o sorriso doce, agora olhando-o de frente, olho a olho.
       — Quer dizer que eu sou mesmo indecisa. E que ninguém me conhece. E que eu posso ser muitas e ter várias personalidades diferentes dentro de mim, sendo apenas eu. Isso é importante pra mim, faz parte de mim e eu quis te contar. Foi você quem eu escolhi.
       — Sabe que não mereço, que não sou o bom moço que você pensa e... — Ela se levantou e pousou um dedo sobre os lábios dele, que se fecharam imediatamente.
       — É, eu acredito mesmo em contos-de-fada e em príncipes com cavalos brancos que trazem um sapatinho de cristal pra mocinha pobre calçar e se casarem. Eu acredito mesmo em finais felizes e sei que esse era pra ser um defeito, mas e daí? Eu pelo menos sou sincera comigo mesma. — Ela deu uma pausa e o fez olhar em seus olhos novamente. Estava claro que ele sentia dor. Não física, mas dentro de si. E ela continuou: — Sei que um dia você me vê de salto alto rosa e vestida de patricinha e no outro me vê de coturno e sombra preta. Sei que um dia eu estou, literalmente, com penas no cabelo e em um dia o tenho liso e no outro cacheado e por assim vai, mas quem se importa? Dane-se! Essa sou eu. Se olhar nos meus olhos como está fazendo agora, verá que eu sou sempre a mesma. Mesmo acreditando em contos-de-fada perfeitos e em felizes para sempre ao mesmo tempo que ouço rock n' roll. Mas dá pra olhar de novo? É só escutar a batida, é sempre os mesmos gêneros de instrumentos que soam juntos em qualquer tipo de música. Inclusive no meu Ipod. E no meu coração.
        Ela o beijou na bochecha e saiu, triunfante e aliviada. Finalmente era quem sempre foi, cabelos longos, nerd, punk e a garota mais doce, carinhosa e compreensiva de todas. Mas longe de ser perfeita, afinal, ela havia transposto essa barreira e agora estava feliz, pelo menos aparentemente. Se dirigia ao estacionamento, quando ele a segurou pela cintura. Sua face nunca havia demonstrado qualquer emoção, até aquele momento.
       — Escuta, só por um minuto Sam. Você disse tudo que queria, mas eu não. Entenda que você não merece um cara como eu. Sou daquele tipo que ninguém se mete e nem ousa chegar perto, você sabe disso. Sou o tipo especializado em quebrar corações, mas... — O primeiro sorriso dele em anos escolares apareceu! Disfarçado, intrigante, quase sexy. — Mas o seu é de ouro. Não se quebra. E precisa de altas temperaturas pra derreter. - Ele riu, ela também. — Não precisava ter me dito tudo aquilo. Eu sempre soube quem você era e é desde o momento em que atravessou a droga do corredor de coturno com tachas e spikes e o vestido mais florido que eu já vi na vida aliados aos livros que estavam em seus braços. Eu também não sou perfeito. Se não percebeu, eu sou o excluído com cara de bad boy, que usa dreadlock e ouve punk e música clássica. E eu já cometi muitos erros. Não vou cometer o próximo que seria te deixar ir embora da minha vida, porque só quando você apareceu ela ficou mais divertida, mas mais dolorida também, então eu te peço que pare de me bater. — Riu de novo. Nervoso? Ele? Possível e real! — Eu posso ter quebrados muitos corações, ter saído da vida de muita gente e muita gente também saiu da minha vida. Mas com você será diferente. Eu ficarei bem aqui, vou fazer você ter seu felizes para sempre. Não vou cometer outro erro.
        Silêncio, silêncio e silêncio. Chegava a a ensurdecer. E o imã dentro deles, de pólos diferentes, os fizeram diminuir a distância entre os lábios dele e os dela. Seria óbvio o beijo deles agora. Era o felizes para sempre por enquanto. Fogo e gelo.
       Ela não era o tipo de garota normal, habitual. Estava longe disso. Mistério era o nome do meio dela. Ele, também. A diferença? Doçura e amargura, respectivamente, mesmo que às vezes trocassem os papéis. Pelo menos tinha pimenta em ambos os cardápios.


@sahbellatrix

quarta-feira, 7 de dezembro de 2011

CARTA DE SUICÍDIO


Provavelmente minha alma já deve ter encontrado o céu agora. É tarde e eu fiz tudo isso com todos os planos para que nada desse errado. Eu espero esse fim há muito tempo. Papai e mamãe, eu queria que ao menos uma vez vocês olhassem pra mim e dissessem que tudo ia ficar bem. Eu queria que vocês tivessem acreditado em mim. Eu queria mais tempo para explicar-lhes a dor que me habita, mas hoje ela transbordou e o relógio está tocando as quatro badalas da morte. Desculpem-me por tudo, mas eu não consegui ouvir os consolos dos inúmeros pares de sapatos e roupas de marcas que vocês me abarrotavam. Eu tinha tudo, menos amor, e era amor o que eu mais precisava. Eu não sei explicar. Talvez eu tenha me seduzido pelas bebidas e pelas drogas, pelas facas, pelas lâminas. Elas eram minhas amigas mamãe. Conversavam comigo sempre que eu estava sozinha, e ah, eu gostava tanto delas. Você entende? Quando eu não tinha mais ninguém, elas me acolhiam. A noite vinha fria demais, o coração apertava demais, e os olhos, ah os olhos, estes vão apagar em minutos. Eles cansaram muito de chorar. Mergulharam tanto em lágrimas que não conseguem mais ficarem sóbrios. Eu peguei os seus remédios papai. Eles são coloridos e eu gosto de cores. Combinei o marrom com o vermelho - a mamãe adorava essa combinação. E os amarelos ficaram por último, porque amarelas foram as flores do enterro da vovó. Os meus pulsos nunca estiveram tão vermelhos e meus olhos nunca se afogaram tanto. Eu mergulhei nas ondas da angústia e a vida não me deu bóias. Sinto muito, eu me afoguei. E eu gosto muito do vermelho, e dos meus pulsos. Meus pulsos. Lembra quando me perguntaram se eu os tinha machucado? E eu respondi que havia um prego na mesa da escola, pois é, o prego era o estilete que o papai usara para cortas os cartões do seu novo escritório. E o machucado, ah, ele não importa pra vocês. Hoje eu quis mais vermelho, eu quis mais sangue. E eu consegui. Ficarei inundada nas marés apaixonantes do inverno e sorrirei, quando despercebida, chegar ao mundo que eu tanto sonhei. A água, o vinho, os venenos. Estão todos aqui, estão assistindo ao meu fim. São a minha plateia fabulosa, silenciosa e agradavelmente fria. Eu nunca quis fazer ninguém chorar, mas ninguém nunca se importou com as minhas lágrimas. Faço justiça então. Ninguém nunca vai entender minha dor, porque só eu sei o quanto mata. Não se perguntem por que eu morri agora. Se perguntem por que é que vocês ainda estão vivos. Eu lutei demais. Eu sofri demais. E, papai eu já estava morta há muito tempo, dentro de mim mesma. Deus pode ter exagerado no meu fardo, mas ele abusou da minha coragem. Coragem esta que me conduz ao precipício agora. Pode ser que eu pague tudo em outra vida, mas hoje eu preciso matar a dor. O hoje é o que me importa. Eu não vou viver o amanhã. Não há ninguém para me salvar, e eu não sinto muito. Dou graças a Deus pelas circunstâncias favoráveis do dia de hoje: chuva, muito trabalho, cidade agitada, fim de ano e casa vazia. Amanhã nos jornais, eu, infelizmente vou ser a capa – “Menina perfeita se suicida e deixa carta.” Eu só quero que saibam que eu tentei apesar de tudo. Minha mente sempre será uma incógnita para todos, e para mim, ela é apenas a perfeição. Hoje eu protagonizarei meus diversos contos publicados nos jornais da escola.


Eu estou partindo, pra sempre.


Com carinho,
                         Ofélia. "


Vi esse texto no tumblr e quis postar aqui. Créditos à: Coffee and Pain (tumblr).


@sahbellatrix

quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

02:22

Primeiro de dezembro, último mês do ano, mês mágico. O mês de reflexão, mês de fazer tudo valer a pena.
Eu parei de escrever à algum tempo, comecei a acumular coisas dentro de mim. Muitas coisas, aliás. Junto com cada letra, desce uma lágrima, uma angústia. Cada crise existencial, cada dor não compartilhada, cada sofrimento, cada dúvida agora desmoronando sobre meu rosto.
Passei tanto tempo tentando coisas, sonhando, imaginando e no fim, nada concreto. Destruí amizades, amores, corações. Destruí a mim mesma com o tempo.
Acho que eu não sou o tipo de pessoa que nasceu com o dom de saber lidar com a fase da adolescência. Eu sofro a toa, vivo intensamente, me arrependo de coisas que não fiz e de algumas que fiz também. Sou contraditória e meio louca, mas tímida ao mesmo tempo.
Estou tão confusa e tão sozinha que já me perco nos dias, nos momentos, em tudo. Espero respostas de pessoas que não querem mais conversar comigo, amigas que já não passam de meras conhecidas e momentos que estão no passado e insistem em continuar nos meus pensamentos.
Eu pensava ter o dom da escrita à alguns meses atrás, mas a minha dor está atrapalhando tudo. Minha mente está embaçada e minha visão também, mas por motivos diferentes. Queria alguns dias longe, perto do mar, perto do céu, perto daquilo que significa algo pra mim. Um bom livro e o meu querido violão já bastariam como companhia. A brisa marinha leve bastaria para acalmar meu coração e o nascer e pôr do sol bastariam para eu admirar o horizonte. Um momento a sós, um momento feliz, longe dos problemas, das tristezas, das coisas que não estão ao meu alcance.
Queria ser do tipo de pessoa que esquece dos problemas alheios para ser feliz, mas eu não sou assim. Eu choro e sorrio junto daqueles que eu amo. Se há problemas com eles, há comigo também. E é por isso que eu sofro tanto, sou sentimental demais.
Esse mês meu objetivo é ser feliz, reatar amores, reatar amizades, reatar laços que nunca deveriam ter sido cortados. Esse mês eu quero acreditar em mim e nos meus sonhos novamente, quero parar de chorar e conseguir o que eu não consigo a muito tempo: sorrir. Quero cumprir promessas e pedir desculpas. Quero fazer o ano ter valido a pena. Quero ser eu mesma.
Que venha dezembro, pois eu estou pronta para recomeçar a viver.